A tecnologia está transformando rapidamente a maneira como as autoridades de trânsito monitoram e aplicam as leis nas estradas brasileiras. Com o advento de câmeras inteligentes, drones e sistemas de inteligência artificial, surge uma nova abordagem para a fiscalização do trânsito, permitindo que agentes multem motoristas infratores em tempo real, mesmo estando fisicamente distantes do local da ocorrência. Esta prática, conhecida informalmente como “canetada à distância”, está ganhando força em todo o país e promete revolucionar a segurança viária.
O papel das câmeras inteligentes
As câmeras inteligentes são dispositivos equipados com software de reconhecimento de padrões e análise de imagem em tempo real. Estes equipamentos são capazes de identificar automaticamente uma variedade de infrações de trânsito, como:
- Excesso de velocidade
- Avanço de sinal vermelho
- Uso do celular ao volante
- Não utilização do cinto de segurança
- Conversões proibidas
- Invasão de faixas exclusivas
Essas câmeras podem ser instaladas em postes, semáforos ou outros pontos estratégicos, oferecendo uma cobertura ampla e constante das vias monitoradas. Ao detectar uma possível infração, o sistema gera um alerta que é enviado instantaneamente para um centro de controle, onde agentes de trânsito podem analisar as imagens e confirmar a ocorrência.
Drones
Os drones têm se tornado aliados valiosos na fiscalização do trânsito, especialmente em áreas de difícil acesso ou em situações que requerem uma visão aérea. Equipados com câmeras de alta resolução e, em alguns casos, com tecnologia de visão noturna, estes veículos aéreos não tripulados podem:
- Monitorar trechos de rodovias com alto índice de acidentes
- Identificar ultrapassagens perigosas em locais proibidos
- Auxiliar no controle de tráfego durante eventos ou situações de emergência
- Detectar congestionamentos e acidentes em tempo real
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) tem sido pioneira na utilização de drones para fiscalização, especialmente em Minas Gerais, onde a tecnologia tem sido empregada para combater infrações em trechos críticos das rodovias federais.
O amparo Legal para a “Canetada à Distância”
A prática de multar motoristas com base em imagens capturadas remotamente é respaldada pela legislação brasileira. Em 2022, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) regulamentou o uso do videomonitoramento para fins de fiscalização de trânsito, estabelecendo as diretrizes para a aplicação desta tecnologia.
A Resolução do contran
A resolução do Contran define que agentes de trânsito podem utilizar imagens transmitidas em tempo real para detectar infrações em flagrante, procedendo com a autuação como se estivessem presencialmente no local. Este marco regulatório foi fundamental para legitimar e padronizar o uso de tecnologias de monitoramento remoto em todo o território nacional.
O conceito de flagrante no Código de Trânsito Brasileiro
O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) considera em flagrante o condutor que está cometendo ou acabou de cometer uma infração, mesmo que não seja abordado imediatamente. Esta interpretação foi reforçada pelo novo Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito, que esclarece pontos anteriormente ambíguos na legislação.
Inteligência Artificial
A Inteligência Artificial (IA) desempenha um papel no sistema de fiscalização remota, atuando como um filtro inicial para as milhares de imagens capturadas diariamente pelas câmeras e drones. Os algoritmos de IA são treinados para reconhecer padrões específicos que indicam infrações de trânsito, alertando os agentes humanos apenas quando há uma alta probabilidade de ocorrência.
Reconhecimento de placas e veículos
Uma das aplicações mais comuns da IA na fiscalização de trânsito é o reconhecimento automático de placas veiculares (OCR – Optical Character Recognition). Esta tecnologia permite:
- Identificar veículos com documentação irregular
- Localizar veículos roubados ou clonados
- Verificar o pagamento de pedágios e estacionamentos
- Controlar o acesso a áreas restritas
Detecção de comportamentos de risco
Algoritmos avançados de visão computacional são capazes de analisar o comportamento dos veículos e motoristas, identificando situações potencialmente perigosas, como:
- Mudanças bruscas de faixa
- Ziguezague na pista
- Frenagens repentinas
- Distância inadequada entre veículos
Estes sistemas geram alertas para os agentes de trânsito, que podem então avaliar a situação e tomar as medidas cabíveis.
O Processo de autuação remota
O processo de autuação remota envolve uma série de etapas que garantem a precisão e a legalidade da multa aplicada. Vejamos como funciona este fluxo:
- Captura da Imagem: As câmeras ou drones registram a possível infração em tempo real.
- Análise Automatizada: O sistema de IA processa a imagem, identificando potenciais violações.
- Alerta ao Agente: Um alerta é enviado ao centro de controle, destacando a ocorrência suspeita.
- Verificação Humana: Um agente de trânsito qualificado analisa as imagens e confirma a infração.
- Autuação: O agente emite a multa eletronicamente, registrando todos os detalhes da ocorrência.
- Notificação: O proprietário do veículo recebe a notificação da infração pelos meios legais estabelecidos.
Este processo combina a eficiência da tecnologia com o julgamento humano, minimizando erros e garantindo a aplicação justa da lei.