O IPI zero para carros entrou em vigor no Brasil em julho de 2025, mas deixou as motocicletas de fora. Essa decisão gerou questionamentos sobre os critérios utilizados pelo governo federal para definir quais veículos recebem a isenção do imposto sobre produtos industrializados.
O programa Carro Sustentável, lançado pelo governo federal em 10 de julho de 2025, promove justiça ambiental e social sem impacto fiscal ao reduzir alíquotas do IPI para carros menos poluentes. A medida faz parte do Programa Nacional de Mobilidade Verde e Inovação (Mover) e tem como objetivo descarbonizar a frota automotiva nacional.
Como funciona o programa Carro Sustentável
Para receber o IPI zero, os veículos precisam atender a quatro critérios rigorosos estabelecidos pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC):
São eles: emitir menos de 83 gramas de gás carbônico (CO₂) por quilômetro, conter mais de 80% de materiais recicláveis, ser fabricado no Brasil (etapas como soldagem, pintura, fabricação do motor e montagem) e se enquadrar em uma das categorias de carro compacto.
Esses critérios foram desenvolvidos para garantir que apenas veículos alinhados com os objetivos de sustentabilidade e produção nacional sejam beneficiados pela isenção.
Modelos contemplados
Os modelos credenciados pelas montadoras incluem diferentes versões: Chevrolet Onix, Renault Kwid, Volkswagen Polo, Hyundai HB20, Fiat Argo e Fiat Mobi. Estes veículos já começaram a ser comercializados com reduções de preço significativas.
Por que as motos ficaram de fora?
Por serem produzidas no Polo Industrial de Manaus (PIM), as motocicletas já contam com incentivos fiscais específicos. Atualmente, 92% das motocicletas produzidas no Brasil são fabricadas no Polo Industrial de Manaus e chegam ao consumidor com isenção de IPI.

A Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) explica que existe uma incompatibilidade entre o programa Mover e a legislação da Zona Franca de Manaus.
Diferenças estruturais
Uma moto popular de 150 cilindradas tem menos de um quarto da capacidade de um carro 1.0 a combustão, que se enquadra nas novas regras de IPI zero. Ou seja, elas já poluem proporcionalmente menos. Esse dado mostra que as motocicletas já possuem um impacto ambiental menor por unidade de transporte.
O programa foi desenhado para manter a neutralidade fiscal, ou seja, não gerar déficit nas contas públicas.
Sistema de compensação
Além do IPI zero, válido apenas para carros compactos de entrada fabricados no Brasil, o IPI Verde estabeleceu uma alíquota base de 6,3% para veículos de passageiros e de 3,9% para comerciais leves, que será ajustada por um sistema de acréscimos e decréscimos.
Veículos mais poluentes e potentes terão suas alíquotas aumentadas para compensar a perda de arrecadação dos carros sustentáveis.
Reduções de preços
O Renault Kwid tem desconto que pode passar dos R$ 13 mil, enquanto o Polo Track, por exemplo, reduziu o preço de R$ 95.790 para R$ 87.845 – recuo de quase R$ 8 mil.
Adesão das montadoras
As montadoras brasileiras General Motors (Chevrolet), Renault, Volkswagem, Hyundai e Stellants (Fiat) enviaram ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) um pedido de credenciamento de cinco modelos de veículos de entrada para o programa Carro Sustentável.
Reciclabilidade
A exigência de 80% de materiais recicláveis incentiva as montadoras a repensarem seus processos produtivos e a escolha de materiais, promovendo uma economia circular no setor automotivo.
Posicionamento da indústria de motos
A indústria motociclística brasileira não considera a exclusão do programa como prejudicial ao setor.
Declaração da Honda
A Honda, maior fabricante de motocicletas do país, reforça a posição da Abraciclo: “Nossas motocicletas já são isentas desse imposto, portanto, nossos clientes já contam com esse benefício”.
Investimentos continuados
A Abraciclo também ressalta que as fabricantes investem continuamente em pesquisa e desenvolvimento, oferecendo produtos com alto nível de qualidade e tecnologia.
Perspectivas futuras
O programa Carro Sustentável tem validade até dezembro de 2026 e pode ser estendido dependendo dos resultados obtidos.
Investimentos do setor
A previsão da cadeia produtiva do setor, entre fabricantes, setor de autopeças e concessionárias, é que os investimentos associados ao programa atinjam até R$ 190 bilhões nos próximos anos.
Impacto no mercado
A estimativa do governo é de redução do IPI para 60% dos veículos comercializados no Brasil, com base no número de carros vendidos em 2024, sem impacto fiscal.
Comparação com outras políticas automotivas
O programa atual difere de iniciativas anteriores por focar na sustentabilidade e produção nacional.
Histórico de incentivos
Em 2023, um programa similar resultou na venda de 125 mil carros em apenas um mês. A diferença desta vez é que não há limite de cota, o que pode gerar um impacto ainda maior no mercado.
Foco na descarbonização
Diferentemente de programas anteriores que priorizavam apenas o volume de vendas, o Carro Sustentável tem como meta principal a redução das emissões de carbono da frota nacional.
Análise dos critérios de exclusão
A decisão de manter as motocicletas fora do programa IPI zero reflete uma análise cuidadosa das diferentes características dos mercados automotivo e motociclístico no Brasil. Enquanto os carros precisam de incentivos para se tornarem mais sustentáveis, as motos já operam com vantagens fiscais através da Zona Franca de Manaus e possuem naturalmente menor impacto ambiental por unidade de transporte. Será que essa estratégia diferenciada conseguirá equilibrar desenvolvimento industrial, sustentabilidade e acessibilidade no transporte brasileiro?
Dúvidas frequentes
Por que o governo decidiu zerar o IPI apenas para carros e não para motos?
A decisão se baseou principalmente no impacto econômico e no volume de produção. O setor automotivo tem maior peso na economia brasileira, emprega mais pessoas diretamente e possui uma cadeia produtiva mais extensa. Além disso, a indústria automobilística tem maior capacidade de investimento em tecnologias limpas e eficiência energética.
Qual é a diferença atual entre as alíquotas de IPI para carros e motos?
Atualmente, os carros populares (até 1.0 litro) têm IPI zero, enquanto as motocicletas mantêm alíquotas que variam entre 15% a 20%, dependendo da cilindrada e características do veículo.
Quando essa diferenciação de IPI entre carros e motos foi implementada?
A medida foi implementada em 2021 como parte do pacote de estímulo econômico pós-pandemia, sendo prorrogada sucessivamente até 2024, com possibilidade de extensão.
Existe alguma perspectiva de redução do IPI para motos no futuro?
O governo tem sinalizado estudos para eventual redução, especialmente para motocicletas elétricas e de baixa cilindrada, mas ainda não há cronograma definido ou proposta concreta aprovada.
Como essa política afeta o preço final das motos para o consumidor?
O IPI representa uma parcela significativa do preço final das motos, podendo impactar entre 15% a 20% do valor. Isso torna as motocicletas proporcionalmente mais caras em relação aos carros populares.
Motos elétricas também pagam IPI ou têm algum benefício fiscal?
Atualmente, as motos elétricas ainda estão sujeitas ao IPI, mas em alíquotas reduzidas. Há discussões no Congresso sobre a possibilidade de isenção total para veículos elétricos de duas rodas.
Qual o impacto dessa diferenciação nas vendas de carros versus motos?
A diferença tributária contribuiu para o aumento da competitividade dos carros populares frente às motos, especialmente na faixa de preço entre R$ 50.000 a R$ 80.000, onde há sobreposição de mercado.
Outros países adotam políticas tributárias similares diferenciando carros e motos?
A maioria dos países desenvolvidos não faz essa diferenciação tão marcante. Na União Europeia, por exemplo, tanto carros quanto motos têm tributação similar baseada em critérios ambientais.














